3 ATOS - Escola de Artes Cênicas

3 ATOS - Escola de Artes Cênicas Rua Aquidaban, 234-b, Centro Fone: (16) 3411 1408 ou 34 16 1997

sábado, 18 de outubro de 2008

Texto da Peça: "COMO VAI A LOUCURA?"


Caso queiram montar essa peça entrar em contato com o Núcleo Arame D'Arte de Estudos Teatrais através do email: aramedarte@gmail.com


“A peça questiona os limites da loucura cotidiana, salientando sempre a solidão, principal causa dessa loucura. A hipocrisia humana é encontrada em todos os momentos: entre risos e tristezas, todas as personagens estão perdidas dentro do seu próprio mundo.”

COMO VAI A LOUCURA?
De Alexandre Rodrigues


Todos os personagens estão presos em um sanatório e vestem camisas de força. Alguns estão presos atrás de uma grade que cobre toda a frente do palco, outros estão espalhados pela platéia. A iluminação é composta de velas e lanternas.

CENA 1

HOMEM – (preso no palco, segura uma foice) Bela, tão bela é a morte. Um resto de vida, a saída para o fim. Um coro de anjos e gritos do inferno. Tão longe e tão perto, rápida e lenta, mas apenas fria. Gélida como os sonhos dos miseráveis, presos, da falta de amor, velha amiga da solidão. Busca teu espaço, enterra. Mero funeral, mas é à hora, amanhã tudo será esquecido e passado para traz.

LOUCA 1 – (presa na platéia) Foge, foge enquanto consegue correr...

LOUCA 2 – (presa na platéia) Deus não existe nessa hora...

LOUCA 3 – (presa na platéia) É o dilúvio, foge... Foge, vamos todos morrer afogados...

HOMEM – (presa no palco) De tudo que é dor, seremos o resto, o resto do mundo, e mais nada existirá, nem mesmo “um homem, uma mulher e uma flor”.

LOUCA 3 – (presa na platéia) Os livros estão sendo queimados em praça pública...

LOUCA 1 – (presa na platéia) Todos estão livres, corram... Vocês estão livres...

HOMEM – (presa no palco) Livres para a morte.

LOUCA 2 – (presa na platéia) Deus seja louvado...

HOMEM – (presa no palco) Enfim sós.

CORO – (todos os personagens) SOLIDÃO, SOLIDÃO, SOLIDÃO...

LOUCA 3 – (presa na platéia) O início da loucura, porque toda sorte já foi lançada, tudo será avaliado e distribuído...

LOUCA 2 – (presa na platéia) Em doses de medo e desespero...

LOUCA 1 – (presa na platéia) Escondam todas as crianças...

LOUCA 3 – (presa na platéia) Mulheres na frente...

LOUCA 2 – (presa na platéia) Amém...

CENA 2
Os personagens estão presos na platéia e iluminam o próprio rosto com lanternas.

ELE – Parece que tudo acabou.

ELA – Só sobrou o vazio.

ELE – O fim chegou rápido.

ELA – Como o “fim do primeiro tempo”. Onde foi que você errou?

ELE – Acordei atrasado e não vi o sol nascer.

ELA – Está escuro, tão escuro...

ELE – Acenda a luz.

ELE – Pronto, assim é melhor, agora eu posso ver como você envelheceu.

ELA – Fiz só oitenta e três, mas me sinto muito mais velha.

ELE – Eles foram ao teatro.

ELA – Foram ver TV... Ouve, ouve os pássaros gritando, ouve os mudos cantando, ouve o coro da torcida...

CORO – (todos os personagens) Gol!!!

CENA 3
Estão presos no palco e criam, com cadeiras, dois ambientes parecidos com sala de televisão e tribunal.


MARIDO – Desliga a TV... Eu não agüento mais: futebol, futebol...

ESPOSA – O que será que aconteceu?

MARIDO – O que será que aconteceu?

ESPOSA – O que será?

MARIDO – O que aconteceu?

ESPOSA – Sei lá.

MARIDO – Eu não sei.

ESPOSA – Não fui eu.

MARIDO – Foi você.

ESPOSA – Não foi, juro que não foi...

ADVOGADO – Senhoras e senhores, estamos aqui para acusar está mulher de crime hediondo e exijo senhor juiz que não seja aceito pagamento de fiança.

JUIZ – Ordem, ordem no tribunal... Do que está mulher é acusada?

ADVOGADO – De assistir futebol de segunda á sábado, no horário comercial e jogar aos domingos.

JUIZ – Ordem, ordem... Silêncio... 5, 4, 3, 2, 1... Declaro-a culpada, com direito a um último desejo.

ESPOSA – Fumaça, fumaça, fumaça vermelha, muita fumaça...

CENA 4
Presos na platéia se iluminam com lanternas.


ELA – Essa não é nossa casa.

ELE – Essa é...

ELA – Isso é um buraco.

ELE – Isso é...

ELA – Que horas são?

ELE – Tarde.

ELA – Que horas são?

ELE – Cedo.

ELA – Você não sabe?

ELE – Eu não sei...

ELA – Por que acabou?

ELE – O quê?

ELA – Tudo.

ELA – Era hora...

CENA 5
Presos no palco.


ELA 2 – (dá uma flor para ele dois) Por que você sempre faz isso?

ELE 2 – (joga a flor no chão e pisa sobre ela repetidas vezes) Você não entende!

ELA 2 – Também você nunca me ensinou...

ELE 2 – Existem coisas que temos que descobrir sozinhos... E essa é uma delas!

ELA 2 – Mas você não devia pisar sobre flores, dizem que elas sentem quando são maltratadas...

ELE 2 – Sabe por que você é tão problemática? Porque você sempre age com a emoção, se às vezes esquecesse esses seus sentimentos hipócritas e usasse mais a razão tenho certeza que você seria muito mais feliz.

ELA 2 – Olha lá uma estrela cadente faça um pedido! “Eu queria que você aprendesse a ser mais humano!” (dá uma nova flor para ele, mas, novamente ele pisa sobre ela) Às vezes os sonhos não se realizam porque somos duros demais para percebê-los.

CENA 6
Anda pela platéia, carregando um candelabro com velas acesas.

MÃE – FILHINHA VEM CÁ, VEM COM A MAMÃE... FILHINHA, MAMÃE ESTÁ AQUI...

CENA 7
Presos no palco sentados sobre pequenos bancos
.

ELE 3 – (dando um pequeno presente) Eu trouxe esse presente para você...

ELA 3 – Que lindo, adorei. (dando um pequeno presente) Eu também trouxe um para você .

ELE 3 – (abre e vê que é uma caixa vazia) Que linda essa caixinha.

ELA 3 – Tem a sua cara.

ELE 3 – Eu estava com saudade.

ELA 3 – Eu também.

ELE 3 – E aí, o que fez ontem?

ELA 3 – Nada.

ELE 3 – Nada?!

ELA 3 – Dormi. E você?

ELE 3 – Fiz um monte de coisas, mais o mais importante é que pensei em você.

ELA 3 – Ah... Que legal!

ELE 3 – Legal?! E aí, o que a gente vai fazer hoje?

ELA 3 – Nada.

ELE 3 – Como nada?

ELA 3 – Amanhã tenho que trabalhar, dormir cedo, não vai dar.

ELE 3 – Você também só trabalha e dorme, não pensa em fazer outras coisas?

ELA 3 – Ah é? E quem vai me sustentar, pagar minhas contas? Você, por acaso?

ELE 3 – Então, quando a gente se vê?

ELA 3 – Na sexta.

ELE 3 – Na sexta não dá, que tal amanhã?

ELA 3 – Já disse que não vai dar.

ELE 3 – Por quê? Você não disse que estava com saudades...

ELA 3 – Mas, amanhã não dá.

ELE 3 – Estou achando isso muito estranho, alguma coisa tem aí.

ELA 3 – Sexta.

ELE 3 – Você sabe que não posso, já está perto da apresentação. Amanhã?

ELA 3 – Sexta.

ELE 3 – Sexta eu não posso.

ELA 3 – Então fica com seu ensaio, eu vou embora. (sai)

ELE 3 – Ela volta. (passa um curto espaço de tempo)

ELA 3 – (volta correndo) Desculpa...

ELE 3 – Tudo bem.

ELA 3 – (dando outro presente) Trouxe um presente para você.

ELE 3 – Eu adorei. Vamos sair amanhã.

ELA 3 – Sexta.

ELE 3 – Você está querendo brigar, já disse que sexta tem ensaio... Por que não amanhã?

ELA 3 – Você também só pensa nesse ensaio.

ELE 3 – E você em dormir.

ELA 3 – Sabe de uma coisa? Eu vou embora. (sai)

ELE 3 – Ela volta. (demora um pouco mais que da outra vez)

ELA 3 – (voltando) Desculpa...

ELE 3 – Tudo bem, eu comprei outro presente para você (dando um outro presente).

ELA 3 – Obrigado.

ELE 3 – E aí.

ELA 3 – E aí, o que?

ELE 3 – Que tal amanhã?

ELA 3 – Sexta.

ELE 3 – Sexta, é? E onde você vai me levar?

ELA 3 – Num parquinho perto da minha casa.

ELE 3 – Ah, que legal... Parquinho, né? Interessante, mas já falei que sexta não dá.

ELA 3 – Sabe de uma coisa, eu cansei.

ELE 3 – Eu é que cansei, você nunca tem tempo para mim.

ELA 3 – E você, se você gostasse de mim faltaria a esse ensaio.

ELE 3 – Já disse que não dá.

ELA 3 – Então fique você com esse ensaio que eu vou embora. (sai)

ELE 3 – Ela volta. Ela sempre volta... (passa o tempo) Ela está demorando, mas ela volta... Já vou até preparando o presente, que daqui a pouco ela está aí... Acho que estou bem assim, né? Ela nunca demorou tanto, será que ela não vem...?

CENA 8
Presos na platéia.

ELE 4 – Cala a boca.

ELA 4 – Não calo.

ELE 4 – Cala.

ELA 4 – Não calo.

ELE 4 – Eu conto tudo para sua mãe.

ELA 4 – Contar o que?

ELE 4 – Tudo o que a gente fez.

ELA 4 – Não conta.

ELE 4 – Conto.

ELA 4 – Não conta.

ELE 4 – Conto.

ELA 4 – Não conta.

ELA 4 – Conto.

ELA 4 – Então conta.

ELE 4 – Não conto.

ELA 4 – Eu sabia, você é um covarde, é isso que você é: “UM COVARDE”.

ELE 4 – Você está louca.

ELA 4 – Louca é? Então estou... Hei, vocês estão vendo? Eu estou louca, louca, louca... (entram loucos vestidos de médicos e começam a levá-la) Vem, vem que estou louca... Me larguem, me larguem, eu não quero ir... Eu não sou louca... Ele é que é louco... Ele quer que eu vá para o hospício... Me larga, me larga... Me deixa...

CENA 9
Presos no palco.


MULHER DO BÊBADO – (carrega um bebê nos braços) Eu não te agüento mais bebendo. Homi tua filha tem fome, e você gasta tudo em bebida. Eu não agüento mais, eu e minha filha vamos embora... Entendeu? Nós vamos embora.

BÊBADO – Mas eu te amo.

MULHER DO BÊBADO – Mas amor não enche barriga, homi de Deus... Eu estou com fome, fome de vida. (ele tenta abraçá-la) Sai, homi de Deus... (pausa) Eu só fico se ocê parar de beber.

BÊBADO – Eu paro.

MULHER DO BÊBADO – Tu para mesmo?

BÊBADO – Paro.

MULHER DO BÊBADO – Jura?

BÊBADO – Juro.

MULHER DO BÊBADO – Por sua mãe pregada na cruz?

BÊBADO – Juro.

MULHER DO BÊBADO – Então tá. (pega a garrafa das mãos do bêbado e bebe) Me dê cá um gole e vamos beber para comemorar.

CENA 10
Sentados em cadeiras na platéia. São iluminados pelas lanternas dos outros personagens.

VELHO – Todo sonho acabou.

VELHA – Você tem certeza que era hora?

VELHO – Sinceramente não sei.

VELHA – Nunca mais vou ver o sol?

VELHO – Acho que não.

VELHA – Você lembra de quantas vezes a gente ficou vendo o sol nascer? O sol se por?

VELHO – Éramos tão jovens.

VELHA – Você era tão romântico.

VELHO – Você tão linda como hoje...

CENA 11
Anda pela platéia, carregando um candelabro com velas acesas.


MÃE – FILHINHA VEM, A MÃE TE AMA FILHINHA...

CENA 12
Presos no palco. Estão deitados como se estivessem em uma cama.


NAMORADO – Shiu! Você consegue ouvir?

NAMORADA – Parece ser o canto da cotovia.

PAI – (entra) O que significa isso?

NAMORADA – Não pai, não pai... Não é nada do que o senhor está pensando pai... Eu e o Marcos, somos apenas amigos.

PAI – Lógico... Lógico...

NAMORADA – Que bom que o senhor entendeu pai...

NAMORADO – O senhor até me deixou assustado...

PAI – Vão casar, vocês vão casar, seus vagabundos, envergonhar meu nome, nunca...

CENA 13
Sentados em cadeiras na platéia. São iluminados pelas lanternas dos outros personagens.

VELHO – Acabou o sonho, acabou...

CORO – (todos os personagens) ACABOU O ARROZ, ACABOU O FEIJÃO, ACABOU... ACABOU, ACABOU TUDO.

CENA 14

JUIZ – (preso no palco) Um minuto de silêncio, logo irão pregá-la na cruz...

FOFOQUEIRA1 – (presa na platéia) Do que ela é culpada?

FOFOQUEIRA2 – (presa na platéia) Sei lá.

FOFOQUEIRA1 – (presa na platéia) Só sei que deve ser horrível...

FOFOQUEIRA 2 – (presa na platéia) Para ela ser condenada, coitada...

ESPOSA – (presa no palco, girando) Fumaça, fumaça, fumaça vermelha, fumaça.

JUIZ – (preso no palco) Então, qual é seu último desejo?

ESPOSA – (presa no palco) Voar, voar... Poder ver o mundo de cima, sentir o vento tocar meu rosto, voar como urubus em noite de festa, voar, voar e bater asas...

CENA 15
Presos na platéia.


PADRE – Então, se tem alguém que queira declarar alguma coisa para impedir esta comunhão de bens que fale agora ou...

AMANTE (homem) – (levanta no meio do público) Eu tenho...

CORO – (todos os personagens) OH...

PADRE – Pois não, pode falar...

AMANTE (homem) – Essa mulher é mãe do meu filho...

CORO – (todos os personagens) OH...

AMANTE (homem) – É isso mesmo, estou de oito meses... Essa cachorra me deixou prenho, eu mais meu irmão, ele também está grávido de seis meses.

CORO – (todos os personagens) OH...

NOIVA – É mentira... É tudo mentira...

CORO – (todos os personagens) OH...

NOIVA – Eu posso provar...

CORO – (todos os personagens) AH...

PADRE – O que você explica disso, D. Maria? Vamos lá, então prove?

CENA 16
Presos no palco.


PACIENTE – (deitada em cadeiras que formam um divã) Tudo começou na minha infância, sabe Doutora?

PSICÓLOGA – Entendo D. Maria...

PACIENTE – Meu pai me batia, minha mãe me batia, meu irmão me batia, minha vizinha me batia, meu cachorro me mordia...

PSICÓLOGA – Seu problema é um só D. Maria: SÍNDROME CANINA.

PACIENTE – Au, au! A senhora acha, Doutora? Au! Tem cura?

CORO – (todos os personagens) TCHã, TCHã, TCHã!!!

PSICÓLOGA – Adivinha!

CENA 17
Anda pela platéia, carregando um candelabro com velas acesas.


MÃE – FILHINHA, VOCÊ NÃO PODIA, FILHINHA. A MÃE PRECISA DE VOCÊ...

CENA 18
Presos na platéia se iluminam com lanternas.


ELA – Todo dia agora quando eu abrir os olhos, e vou ver esse buraco?

ELE – Talvez...

ELA – E nossa casa, ela era tão bonita, como a gente sempre sonhou.

ELE – Eu faço outra para você.

ELA – Eu não quero.

ELE – Eu também não.

ELA – Então é assim.

ELE – Será sempre assim?

ELA – Sim... Onde está nosso jardim?

ELE – O tempo comeu.

ELA – Onde está o tempo?

ELE – Está no relógio.

ELA – Onde está o relógio?

ELE e ELA – Sumiu, sumiu...

CENA 19
Presos no palco.


PSICÓLOGA – Foi culpa dela?

PACIENT E – Dela quem, Doutora?

PSICÓLOGA – Sente-se aqui D. Maria e pense comigo: “João amava Teresa que amava Joaquim que amava, etc...”

PACIENTE – Entendo, entendo...

PSICÓLOGA – Sorria D. Maria, essa é a solução.

PACIENTE – Como assim?

PSICÓLOGA – Você amava um, depois outro e agora vai se casar com um terceiro...

PACIENTE – Sim?

PSICÓLOGA – Então?! No fundo do coração a senhora descobrirá um amor platônico por um único homem...

CORO – (todos os personagens) QUEM? QUEM? QUEM?...

PSICÓLOGA – Seu, seu... Cachorro.

CENA 20
Presos na platéia.


NOIVA – O senhor me entende agora, padre?

PADRE – Diante das circunstâncias, minha filha, declaro que essa comunhão de bens é, é...

CENA 21
Anda pela platéia, carregando um candelabro com velas acesas.


MÃE – FILHINHA, EU TINHA TANTOS PLANOS PARA VOCÊ, FILHINHA VEM CÁ...

CENA 22
Presos na platéia.


NOIVA – O que, padre?

PADRE – Essa comunhão é, é... Sabe D. Maria, eu esqueci, mas tenha certeza: “Deus vai nos guiar”.

NOIVA – Para onde, padre?

CENA 23
Sentados em cadeiras na platéia. São iluminados pelas lanternas dos outros personagens.


VELHO – Pelo paraíso, lá onde é claro, fresco, onde o ar tem perfume, onde a água tem sabor, onde os sonhos são reais... Talvez um dia poderemos estar lá.

VELHA – Demora.

VELHO – Sim.

VELHA – Você sabe onde fica?

VELHO – Logo ali na frente...

VELHA – Não consigo ver.

VELHO – Nem eu.

VELHA – Nós estamos cegos?

VELHO – Não sei.

VELHA – Eu vejo teu rosto. Você vê o meu?

VELHO – Vejo.

VELHA – É tudo tão estranho.

VELHO – Simples.

VELHA – O quê?

VELHO – A sombra que faz!

VELHA – Qual?

VELHO – Dorme.

VELHA – Durmo.

VELHO – Esquece.

VELHA – Esqueço. (Adormecem, um encostado no outro)

CENA 24
Presos na platéia.


ELA 4 – Ouve lá, parece que tem mais alguém aqui.

ELE 4 – Talvez.

ELA 4 – Vamos procurar?

ELE 4 - É melhor não.

ELA 4 - Por quê?

ELE 4 - Poderá ser um susto.

ELA 4 – Pisque boca.

ELE 4 – Feche ouvidos.

ELA 4 – Cala coração.

ELE 4 – Respira, respira...

ELA 4 – Em silêncio.

ELE 4 – Percebe, é o som do seu coração que canta, seu pulmão que chora, seu cérebro que fala...

ELA 4 – (ouve um barulho) É o telefone.

ELE 4 – É o despertador.

ELA 4 – Atende.

ELE 4 – Desliga.

ELA 4 – Liga.

ELE 4 – Desliga.

ELA 4 – Acaba.

ELE 4 – Acabo.

ELA 4 – Bom dia loucura!

ELE 4 – Boa tarde loucura!

ELA 4 – Boa noite loucura!

ELE 4 – Que loucura?!

ELA 4 – Quem é louco?

ELE 4 – Nós todos somos loucos...

CENA 25
Presos na platéia.


LOUCA 1 – Porque loucura é estar vivo! É ter que engolir tudo aquilo que nos foi imposto.

LOUCA 4 – É sentir fome, medo, é viver está “liberdade”, preso a regras e decisões, em que nunca fomos questionados...

LOUCA 3 – Ser louco é apreciar coisas pequenas...

LOUCA 1 – É amar e se entregar a esse amor...

LOUCA 4 – Sim somos todos loucos, pois loucos são aqueles que fazem aquilo que lhe dão prazer.

LOUCA 3 – Enquanto outros não conseguem encontrar a si mesmos.

LOUCA 4 – E pensar que existem loucos que se preocupam com nossas vidas sem saber que existe vida na loucura.

CENA 26
Presos na platéia.


ELA 4 – Existe sonho.

ELE 4 – Ouçam o canto.

ELA 4 – Essa é a hora.

CORO – (todos os personagens) Porque a loucura, a loucura vai bem, muito bem, obrigado!

CENA 27

MÃE - FILHINHA MAMÃE TE AMA, EU PRECISO DE VOCÊ, FIZ TANTOS PLANOS, FILHINHA... (sobe no palco) Olhei por todos os lados. Andei, procurei. Dias, meses, anos de caminhada a procura de não sei o que. Quando tentei olhar eu não vi. Quando busquei amor, eu somente o perdi, me disseram algo sobre felicidade, mas tudo no que acreditei sumiu, desapareceu, como desenhos no chão. E quanto mais procurava mais distante me sentia estar. Hoje, quando olho no espelho sei que tudo eu pude viver, quando fui triste ou feliz, quando me perdi e procurei encontrar, quando me disseram, loucura menina, deixe estar, temos que viver, temos que continuar, mas tenham certeza, tudo o que eu ou vocês possam procurar, tudo de bom e de mal estará sempre dentro de nós mesmos.

FIM

Um comentário:

Poeta! disse...

Eu participei dessa peça! Em sua primeira encenação... Bons tempos... Saudades