3 ATOS - Escola de Artes Cênicas

3 ATOS - Escola de Artes Cênicas Rua Aquidaban, 234-b, Centro Fone: (16) 3411 1408 ou 34 16 1997

quarta-feira, 29 de abril de 2009

"(...) o que é que elas têm a ver com o belo? - Mas o fedor!"


Há algumas semanas tenho lhe enviado a divulgação do espetáculo que faço parte, entretanto, decidi mudar minha divulgação e escrever-lhe uma pequena carta convite.

Nesta semana, completamos um mês de apresentação no Teatro João Caetano - um dos teatros distritais da Prefeitura da Cidade de São Paulo.
Em um mês pude olhar o vazio e deparar-me com o abandono, a não habitação, a falta de ação dos profissionais que ocupam cargos públicos.
No último domingo, recebemos a noticia que o técnico de luz não trabalharia e que, nesta semana, não estará nem sexta, nem sábado, nem domingo (os três dias de apresentação), pois trabalhará na virada cultural.
Qualquer teatro possui um técnico local, que tem por obrigação e dever estar presente no mínimo antes da sessão para verificar os equipamentos – neste domingo não pudemos usar refletores que não ligavam e não podíamos verificar a causa: queima, mau contato. No mesmo dia ao chegar ao teatro resolvi comer uma pipoca e não achava a pipoqueira, ao entrar na sala de espetáculos lá estava ela varrendo a sala e dizendo-me que limpava, pois não tinha ninguém para limpar a sala depois da sessão da tarde e já que ela faz a pipoca, talvez seja justo que ela limpe o local. Por fim, no mesmo domingo, pude escutar conversas e gritarias que vem se repetindo todas as semanas no hall do teatro enquanto acontece a sessão.
Serão estes apenas problemas administrativos, resolvidos apenas com contratações e demissões? Serão essas questões novas, atuais?
Não sei, sei que são o que os meus olhos enxergam no presente momento e só posso falar do que vivo. Não me meterei a desenvolver uma filosofia sobre as nossas políticas publicas e nem sobre as regras orçamentárias da nossa Cidade, mas torço para que aqueles que entendam que continuem escrevendo para que uma troca seja feita e que possamos fortalecer a nossa consciência.
Em tempos idos, o teatro João Caetano foi ocupado por grandes Cias. Teatrais que fomentaram a formação de público na região. Hoje essa realidade torna-se difícil: temos mais de 100 espetáculos em cartaz na cidade de São Paulo – o excesso, a quantidade tem sido a escolha de nossos cidadãos há um bom tempo. Também, a opção pela sobrevivência artística coloca os atores de minha geração (80/90) cada vez mais na chamada carreira “solo” e que abarca diversos trabalhos, fazendo com que deixemos cias. e pensamentos. Cabe-nos debruçarmos sobre a obra que nos chega ou que escolhemos e procurar injetá-la de vida, buscando, de alguma forma retratar a paisagem que vivemos no cotidiano e em outras esferas espaciais que ocupamos nesta cidade.
O convite que faço aqui é que não assista ao espetáculo, mas que visite este Espaço Vazio. Ele está lá de domingo a domingo e pode ser visitado, não tem hora para o Horror. Claro, se quiser passar na sexta no sábado ou no domingo à noite, será bem vindo e espero poder compartilhar deste momento. Se será agradável ou não, não posso garantir.
Convido você ao abandono, à solidão, ao vazio de um local que quase virou um estacionamento, mas a nossa Prefeitura comprou-o e lá esta ele – IMÓVEL.

Réquiem, de Hanoch Levin
Direção Francisco Medeiros
SEX SAB 21h DOM 19h
Teatro João Caetano
Rua Borges Lagoa, 650 (próximo ao metro Santa Cruz).

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Sessão Exibição Curtas Oficina Tela Brasil


Assistam o primeiro curta-metragem de Candi Oliveira, o documentário:



"IDENTIDADE: DOMESTICADA".


Quem és tu sociedade para escolher o que sou e o que vou ser?

Quem és tu sociedade para me dar uma personalidade, um rótulo?



Me deixe ser livre, me deixe escolher, me deixe ser... Eu!

Identidade, quais são as suas?





quinta-feira, 9 de abril de 2009

MOVIMENTO TEATRAL

Há anos fazemos teatro em nossa cidade. Grupos nasceram, morreram, alguns renasceram e outros estão perto do fim.
Muito se fala, mas pouco se faz em prol da existência da arte teatral em nossa cidade.
Mas de quem é a culpa?
Quem são os verdadeiros culpados?
Será falta de vontade política?
Falta de incentivo financeiro das empresas locais?
Será a falta de salas de teatro em nossa cidade?
Sim, tudo isso nos falta. Mas, principalmente, nos falta entendimento sobre a arte que praticamos, nos falta organização, nos falta aprofundamento teórico, nos falta saber qual é a nossa importância para o Teatro, qual a importância do Teatro para nós.
Somos médicos, professores, estudantes, mas morremos de medo de nos assumirmos como ARTISTAS.
Ficamos parados no tempo esperando que outros façam algo em benefício da nossa arte.
Sim, precisamos de políticas a nosso favor. Sim, precisamos de dinheiro. Sim, precisamos de mais salas de teatro. Mas, honestamente, não sei se isso bastaria. Acredito que mesmo que tivéssemos um teatro para cada grupo local, salários para produzirmos espetáculos, ainda assim, viveríamos na mediocridade.
Não consigo ver atores interessados em viver um aprofundamento na arte teatral, o que vejo são atores desesperados para montar e apresentar espetáculos.
Pensamos no fim, mas onde fica o processo?
O processo é que nos prepara, o processo é que nos ensina, o processo é o nosso exercício de aperfeiçoamento.
Certo dia, em uma entrevista, ouvi Antunes Filho dizer que pararia qualquer ensaio, caso ele percebesse uma deficiência em um de seus atores sobre algum conceito teatral ou sobre a vida. Dizia ele que recorreria aos livros, a filmes, pois não há nada mais insuportável que atores medíocres.
Por que nossos atores fogem da leitura, fogem do aprofundamento, fogem da aprendizagem da arte que tanto amamos?
Falta uma universidade de Artes Cênicas, faltam cursos, faltam, faltam, faltam... Desculpas! Quantas desculpas arrumaremos para o descaso com que temos nos tratado?
Falta-nos um Movimento Teatral.
Não nomes de grupos no papel, listas de e-mail, reuniões sem pauta (onde se fala de tudo, menos de aprofundamento e amor ao teatro), reclamações e mais reclamações.
Um Movimento Teatral deve ser feito por aqueles que amam o Teatro, por aqueles que lutam pela sua sobrevivência, sem medo dos livros, sem medo da luta árdua diária, do estudo profundo.
É claro que nós, atores, queremos pisar no solo sagrado do palco. Mas precisamos lembrar que o palco pode ser onde quisermos. Nós artistas podemos criar, criar livremente. Meu palco pode ser a rua, a praça, o bar, a casa do amigo, o banheiro, o ônibus, o restaurante... Não podemos nos esbarrar na idéia de que teatro se faz dentro da sala de espetáculo.
Um Movimento Teatral existe quando o Teatro vai ao encontro do povo, da comunidade, do seu público.
Claro que precisamos de dinheiro para transporte, figurinos, maquiagens. Mas a essência do teatro não está na roupa, mas no texto, na idéia, na relação ator-platéia.
Deixemos à sombra, deixemos de lado as reclamações, vamos aceitar a condição de artistas. Somos artistas, vamos ao encontro do povo.
Vamos ensaiar nos parques públicos, praças, vamos mostrar nossos trabalhos em todos os cantos da nossa cidade.
Chega de mediocridade e disputa entre artistas, não somos “times” participando de um torneio para saber quem é melhor, somos artistas querendo fazer arte, viver de arte.
Mas como exigiremos, como conseguiremos apoio, se estamos escondidos atrás de desculpas e reclamações?
Não temos onde ensaiar, não temos onde apresentar, não temos dinheiro, não temos, não temos...
Que vergonha! Talvez seja por isso que quando nos perguntam nossa profissão respondemos médicos, dentistas, advogados, mas nunca atores.
Vamos ler, deglutir as bibliotecas públicas, vamos fazer todos os cursos que aparecerem (mesmo os ruins), vamos ver todas as peças, todos os filmes, vamos ver todas as exposições e shows... Não temos dinheiro para isso! Mais uma desculpa...
Vamos trocar informações entre grupos, não concorrer entre os grupos, mas trocar, um ensina o outro, um vai ao espetáculo do outro, um ajuda a divulgação do outro. Vamos emprestar atores, vamos dirigir o espetáculo do outro, vamos fazer o cenário do outro, vamos aprender juntos.
Isso é um Movimento Teatral?
Não sei, não sei, mas tenho certeza que assim poderemos nos assumirmos como artistas, como amantes do Teatro, como Luta-atores dispostos à aprendizagem teatral...
Que o público se prepare, pois o Teatro poderá (é só querermos!) invadir nossa cidade.