3 ATOS - Escola de Artes Cênicas

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quarta-feira, 8 de outubro de 2008

PARÁBOLA ALEGÓRICA SOBRE O TEATRO E A EDUCAÇÃO




João sentava-se em sua carteira, assim como os outros trinta alunos que estavam em sua sala de aula. A carteira era pequena para João, não que ele fosse grande, muito pelo contrário, ele era um garoto bem franzino.
A carteira era o limite. João ali se sentia como o seu canarinho, que vivia engaiolado. Ao se mexer, às vezes, derrubava o seu material no chão e quando isso acontecia já sabia que a professora, presa em sua mesa, lhe chamaria a atenção em voz alta, o que fazia a estatura franzina de João diminuir, a ponto de quase sumir sob a carteira.
A carteira limitava João e os outros alunos, a mesa protegia a professora. A carteira era pequena, a mesa era grande. João era só mais um aluno, mas a professora, a professora era a professora, ora! Ela esparramava sobre a sua mesa o material que trazia em sua pasta. Na carteira de João mal cabia o caderno de desenho, os lápis de cor tinham que permanecer dentro do estojo dentro da bolsa.
A aula de Educação Artística era tão esperada quanto à aula de Educação Física. Era à hora de se soltar! Mas como voar preso numa gaiola? Na aula de Educação Física João corria, livre, pois o professor ficava escondido atrás de um jornal à aula toda. Na aula de Educação Artística tinha desenho livre! Mas, só tinha desenho livre.
João já tinha ouvido a professora reclamando: Como dar aula de Artes só com lousa e giz? Mas João não entendia, ele gostava de fazer desenho livre.
João queria ser artista quando crescesse, mas ele era um garoto tímido. Já estava acostumado a ouvir os comentários nas reuniões de pais: "Ele não fala! Parece mudo! Ele deve ter algum problema! Ele é anti-social!"
Mas ele não era mudo, muito pelo contrário falava até demais, os amigos da sua rua sempre reclamavam: "Ele é um tagarela! Não para de falar!"
Na casa de João tinha um corredor, grande, e foi lá que ele teve uma grande idéia: fazer uma apresentação de teatro de bonecos. João nunca havia visto uma apresentação de teatro, muito menos de bonecos, mas isso não o impediu de escrever sua primeira peça, confeccionar os bonecos e atuar. A apresentação foi um sucesso. João sentiu-se realizado com os aplausos dos colegas da sua rua.
E foi então que ele tomou uma decisão: ser ator! Mas não qualquer ator, João queria ser ator de Teatro. E a partir deste dia sua carteira ficou menor, de garoto tímido ele passou a ser rebelde, inquieto. Já não conseguia mais ficar calado e começou a questionar a professora: "Quando teremos aula de teatro?"
A professora, atrás de sua mesa, ficou incomodada, afinal não é importante aprender Teatro, tanta coisa mais importante: pintores, escultores... E atrás de sua mesa ela continuou, mas a insistência de João foi tamanha, que um dia ela chegou e disse: "Montaremos uma peça de Natal!"
João ficou tão feliz com a notícia que queria correr, saltar, gritar, e devido sua explosão a carteira caiu no chão fazendo um enorme estrondo. O pior aconteceu, ele tentou se explicar, se desculpar, mas recebeu um castigo, o pior de todos para João, ele não participaria da peça de Natal.
E durante a montagem da peça João ficava preso em sua gaiola, e a professora sentia-se, novamente, segura em sua mesa.
Para João foi uma tristeza só. Chorou. E escreveu um Auto de Natal, ele nem sabia que era, mas era, e como era triste. Reuniu um grupo de colegas e preparou com todo cuidado, era a primeira vez que João dirigia um grupo de Teatro, algo que ele nem sabia que fazia. A peça foi apresentada na área de sua casa e foi um sucesso que deu gosto.
Estava confirmado: João não queria mais ser ator, João queria ser diretor de Teatro.
Na escola os ensaios continuavam e João continuava só assistindo. E observando ele percebeu que sua professora não via a verdadeira beleza do Teatro, percebeu que ela não tinha nada a dizer com aquela peça, que os alunos pareciam bonecos e faziam o que a professora mandava, ouviu os gritos da professora e o choro dos colegas, indignou-se com a forma que a professora tratava seus alunos, com o descaso que ela tinha com a Arte e João decidiu naquele momento que não queria mais ser diretor de Teatro, ele queria ser professor, professor de Teatro! Queria abrir as gaiolas, arrancar as mesas, queria ensinar, conviver... Queria uma sala de aula onde todos se sentissem a vontade para falar, para pensar, para criar, para voar! Queria uma sala de aula onde todos pudessem sorrir e sonhar, e que todo o sonho pudesse ser realizado!
E o tempo passou e João, já grande, se tornou professor de Teatro e saibam que sua sala de aula é exatamente como ele havia sonhado!

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