CENA 1
Laura – Você tem certeza?
Luiza – Claro que eu tenho! Olha aqui, você lembra quantas vezes eles nos confundiram...
Laura – Eu sei, mas isso foi no começo do nosso namoro...
Luiza – Você fala como se não soubesse como são os homens. Minha irmã me responde uma coisa: ele percebe quando você corta os cabelos?
Laura – ... Não... Mas...
Luiza – Mas nada! Eles não vão perceber. E nós vamos nos divertir muito! Topa ou não?
Laura – Ainda não sei...
Luiza – Então deixa pra lá! Vamos esquecer esta história! Eu vou para minha casa que a babá pediu para sair mais cedo...
Laura – Está bem... Espera... Eu topo...
CENA 2
Laura – Foi assim que tudo começou. Curiosidade... Desejo...
Luiza – Acima de tudo desejo... Libido...
Laura – Nós nascemos no mesmo dia, no mesmo mês...
Luiza – Mas ela é cinco minutos mais velha...
Laura – Mesma mãe, mesmo pai... Começamos a namorar na mesma semana...
Luiza – Com garotos diferentes...
Laura – Bem diferentes... Pedro, meu marido... Sempre foi mais...
Pedro – Lá vem você... Ela agora vai dizer que eu sou mais calmo que o outro...
Laura – Mais calmo...
Pedro – Mais honesto, mais trabalhador...
Luiza – Você já está exagerando, Laura!
Laura – Mais honesto, mais trabalhador... Mas, infelizmente...
Pedro – Você não vai ter coragem de dizer... Eu te proíbo, Laura!
Luiza – Ela não vai conseguir! Sempre tão cheia de pudor...
Laura – Ele, bem... Nós quase nunca...
Luiza – Chega de rodeios! Eles quase nunca faziam sexo... Ele era tipo: papai-mamãe, de vez em quando! (ri)
Pedro – Como você é vulgar Luiza... Você sabe, Laura, eu já havia te explicado, tantas vezes... Afinal de contas, você era minha mulher, não uma prostituta... Eu te queria como uma esposa... Agora essa sua irmã, com esse fogo... Essas roupas insinuantes, sempre se oferecendo... Com os seios sempre a mostra... Uma vadia! Isso!
Luiza – Bem que você gostou, não foi, Pedro? E me disse cada coisa... Coisas que ele nunca te disse, Laura. Coisas que ele nunca diria a outra mulher...
Laura – Chega! Quando eu via as marcas no pescoço de Luiza... As marcas do prazer que ela sentia com seu marido... Eu tremia! E ela fazia questão de me contar às coisas que eles faziam na cama... Contava todos os detalhes... E eu queimava, ardia! Mas em casa... Quantas vezes Pedro chegava e dizia estar cansado...
Pedro – Mas eu estava... Laura, eu trabalhava o dia inteiro. Naquele dia tive uma reunião com um cliente que me torrou a paciência... Quero tomar um banho e dormir!
Laura – E dormia! E eu rolava na cama, queimando! (Luiza ri) E no outro dia a mesma coisa...
Luiza – Comigo foi bem diferente, Laura! Ele estava quente, muito quente... Mais quente até do que meu próprio marido... (ri)
Laura – Nunca! Você fica me dizendo que sou eu a culpada... Mas eu não sou! Eu fazia de tudo... Eu me lembro uma vez que fiz tudo, tudo mesmo, mas...
Pedro – Você parecia uma vadia! Eu te estranhei... Senti nojo... E pensei: minha mulher tem um amante!
Laura – Mas eu não tinha... Eu queria ser sua mulher... Eu queria ser mulher!
Luiza – Comigo, ele foi ótimo... Ardente! Nunca senti tanto prazer! Parecia que muitos homens me tocavam, muitas mãos passeavam pelo meu corpo... Eu gritava! E ele dizia coisas deliciosas, enquanto lambia minha nuca...
Laura – Chega!
Pedro – Eu pensava que era você, Laura! Você sabe disso...
Laura – Pensava...? Mas comigo nunca fez desse jeito... Nunca!
Luiza – Não tente se explicar, Pedro. Ela sabia, ela quis, ela sugeriu a troca... Ela desejava o meu marido...
Laura – Não!
Luiza – Sim. Desejava, sim! Chegou a minha casa e disse que queria conhecer um homem de verdade... Que queria sentir o que eu sentia! E então propôs a troca... Eu vi nos seus olhos! Eles queriam... O seu corpo inteiro queria! E eu topei... (ri) Só não esperávamos que...
Pedro – Como você pode, Laura? Você, a mãe dos meus filhos... Meu Deus... Meu Deus...
CENA 3
Luiza – Topa! (Bate palmas e ri) Minha irmã virou uma mulher determinada, decidida... (ri)
Laura – Pare de rir Luiza... Eu estou cansada, eu não agüento mais... Eu não acho que sexo é essencial...
Luiza – Não? Olha, Laura, não precisa ficar se explicando... Eu te entendo. E topo porque toda relação tem os seus momentos de tédio, e nada melhor do que uma traição para reacender a paixão... (ri)
Laura – Promete que ninguém nunca vai ficar sabendo! Promete, Luiza?
Luiza – E você acha que eu quero perder o meu marido! Eu o amo, Laura! E só vou fazer isso por você! Ouviu? Por você minha irmã...
CENA 4
Laura – Por mim? Por mim coisa nenhuma... Por mim... E olha minha vida agora... Olhe o que restou da minha vida!
Luiza – Como você é dramática, Laura! Você tem o que queria, o meu marido! (ri) Tudo bem, que parece que nada mudou para você, não é Laura? Fausto, deve sentir muito a minha falta!
Laura – Sua falta? Você se esquece que ele não sabe de nada...
Luiza – É mesmo, ainda não sabe... Mas vai saber, mais cedo ou mais tarde... Vai saber... E vamos estar todos aqui... (ri) E o que será que vai acontecer com minha irmãzinha? (ri)
Laura – Chega! Eu não agüento esse teu cinismo...
Luiza – Cínica é você Laura... Por que sustenta esta mentira? Por que não conta à verdade para Fausto...? Tens medo do quê? Medo de quem? Não percebes que não tens mais nada! Sua filha, cadê?
Laura – Está no quarto...
Luiza – Não a minha, a sua filha... A minha eu sei que está no quarto! Mas e a sua... (Laura começa a chorar) E choras por quê? Por quem?
Pedro – Como você pode Laura? Me trair, deixar nossa filha...
Laura – Eu não deixei, vocês sabem... Eu fui obrigada!
Pedro – Obrigada, por quem?
Laura – Pela situação...
Pedro – Situação que você mesma provocou... Não é, Laura?
Laura – Não...
Luiza – Não? (ri)
Laura – Eu não sei... Não sei... Deixem-me em paz! Deixem-me em paz...
Luiza – Você não percebe que nunca vai ter paz! (Luiza e Pedro saem de cena rindo)
CENA 5
Fausto – O que está acontecendo?
Laura – Nada...
Fausto – Com quem você estava conversando?
Laura – Ninguém...
Fausto – Luiza, eu já disse... Você devia procurar um médico... Desde a morte da sua irmã, você tem estado muito diferente...
Laura – Diferente? Como, Fausto?
Fausto – Diferente... Fala sozinha, vive chorando pela casa... E...
Laura – E?
Fausto – Você sabe, Luiza...
Laura – Sei, sei sim, Fausto! Seu problema é na cama, não é?
Fausto – Não é isso...
Laura – Ah, não! Por que você não diz que eu mudei com você na cama...? Diz! Eu não ajo mais com uma prostituta... Não é isso?
Fausto – Não é isso...
Laura – Claro que é, Fausto! Deixe de ser hipócrita!
Fausto – Você não está bem, Luiza! Não está nada bem...
Laura – E você sabe por quê?
Fausto – Deve ser por causa da sua irmã... Vocês se davam muito bem... E...
Laura – Será que você não percebe, Fausto? Olhe bem para mim... Você não percebe a diferença?
Fausto – Do que você está falando?
Laura – Saia daqui... Saia daqui... Deixe-me sozinha! Sai daqui... Sai daqui... (Fausto sai)
CENA 6
Laura – Maldita hora que eu ouvi seus conselhos, Luiza... Maldita hora!
Luiza – Você não vai aprender nunca, não é, Laura? Não se fala assim com homem que acabou de chegar do trabalho! Você devia recebê-lo com um beijo... Afinal de contas, ele é seu marido!
Laura – Meu não, seu... Fausto é o seu marido! O seu marido! (chora)
Luiza – Que triste, não é, Laura! Saber que ele é o meu marido, não seu... Sempre o meu marido! Ele não sabe da nossa troca, mas sente... (ri) Nós sempre fomos muito diferentes! Aqui fora, até que somos iguais... Mas aqui dentro... Eu sou Luiza, e você Laura, por mais que tente, nunca... Escute bem! Nunca vai conseguir, ser ou agir como eu... (ri) E posso te contar um segredinho? (entra Pedro) Até o Pedro sabia que eu não era você...
Laura – Mentira! Ele pensava que era eu... Pensava...
Luiza – Isso é o que você pensa... (ri)
Pedro – Você não vai acreditar nela... Laura, não acredite nela!
Luiza – Naquele dia... Eu fui para sua casa e você para minha, como havíamos combinado... Quando Pedro chegou e eu o beijei... Ele estranhou, afinal, você nunca o havia recebido assim, não é, Laura?
Laura – Continua...
Luiza – Então, eu tirei seus sapatos... E disse-lhe que estava tudo pronto para o seu banho... Ele me olhou de um jeito, Laura... Fico arrepiada só de lembrar...
Laura – Nojento!
Luiza – (ri) Então ele entrou no banho... Tirei a minha roupa e entrei atrás dele... Você lembra, Pedro?
Pedro – Você nunca tomava banho comigo, Laura...
Luiza – Então, de repente... Quando já estávamos na cama... Ele chamou meu nome...
Pedro – Luiza!
Luiza – Luiza! O meu nome, não o seu Laura... O meu...
Laura – Mentira!
Pedro – Luiza!
Laura – Mentira...
Luiza – Ele sabia que não era você, Laura! Ele sabia...
Pedro – Não... Eu não sabia!
Luiza – Sabia, e me amou... E gritou meu nome, uivava meu nome... Luiza! (ri)
Pedro – Luiza!
Laura – Não é verdade... Não é verdade!
Luiza – É verdade, sim! E sabe, Laura, acho que até Fausto percebeu que não era eu... (ri) Afinal, foi a primeira vez em cinco anos de casamento... Ouve bem! A primeira vez, a primeira noite em que ele não fez amor com sua esposa! (ri) Você percebe como ele te trata? Pensa que você está doente! Acho que ele deveria saber que você não é, e nunca será a sua esposa... Porque a verdadeira esposa de Fausto sou eu, Laura!
Laura – Mas você está morta!
Luiza – Estou? Até tinha me esquecido... Agora, você não consegue se esquecer daquela noite, não é?
CENA 7
Luiza – Como foi no trabalho, meu amor?
Pedro – Bem!
Luiza – Senti tanto sua falta... (beija-o)
Pedro – O que significa isso?
Luiza – Saudade! (beija-o novamente) Eu preparei o seu banho... Hoje você vai ter um jantar muito especial...
CENA 8
Fausto – Meu amor! (Tenta beijá-la)
Laura – (afastando-se) Não...
Fausto – Aconteceu alguma coisa?
Laura – Não... Um pouco de dor de cabeça!
CENA 9
Pedro – Meu Deus!
Laura – Eu não quero lembrar...
Luiza – Mas vai lembrar, Laura... Eu e Pedro fizemos amor no banho!
Laura – Chega, Luiza!
Luiza – Depois, fomos para cama e fizemos amor de novo...
Pedro – Eu lembro...
Laura – Lembra? Nojento! Canalha!
Luiza – De quem foi à idéia, Laura? (silêncio) Depois...
CENA 10
Pedro – Luiza! Luiza!
Luiza – Você foi ótimo, Pedro!
Pedro – Que barulho é esse?
Luiza – Não sei! (grita) Parece que estão quebrando a janela...
Pedro – Eu vou descer...
Luiza – Pedro, não... É melhor chamarmos a polícia...
(Pedro vira-se para ela, neste momento entra um homem de capuz e atira nas costas de Pedro, ele cai sobre Luiza que grita.).
Luiza – Não! Pedro... (para o homem) Não... Por favor, não! Por favor...
(O homem atira em Luiza, rouba alguns objetos e sai).
CENA 11
Laura – Por que isso foi acontecer? A minha vida acabou naquele dia...
Luiza – A sua não, Laura, a nossa...
Laura – Vocês não sabem o que passei, o que tenho passado... Enquanto você e Pedro... Eu e Fausto...
CENA 12
Fausto – Meu amor... Vem para cama, vem...
Laura – Fausto... Eu não posso! Isso não é certo... Eu... (toca o telefone) Pronto!
Mãe – Luiza, minha filha... Aconteceu algo terrível! (começa a chora)
Laura – O que foi mãe?
Mãe – A Laura... O Pedro...
Laura – O que aconteceu com eles?
Mãe – Eu não sei... Mas ligaram da polícia... Eles estão mortos...
Laura – Mortos? (larga o telefone e despenca sobre a cama)
Mãe – Luiza! Luiza...
CENA 13
Pedro – E por que você não contou? E por que você não disse a verdade? Por que não falou para todos sobre a troca...
Laura – Eu não podia, Pedro...
Pedro – Laura...
Laura – Eu não podia, vocês sabem...
CENA 14
Mãe – (corre e abraça a filha) Luiza, minha filha... (chora)
Laura – Mãe...
Mãe – Como isso foi acontecer? Meu Deus! Mataram minha filhinha... (chora)
Laura – Mãe...
Mãe – Ainda bem, que ainda tenho você, Luiza... (chora enquanto Laura a abraça)
CENA 15
Luiza – Ela me amava mais do que a você, Laura!
Laura – Eu soube disso naquele momento...
CENA 16
Mãe – Graças a Deus, que não foi você, Luiza... Graças a Deus! Graças a Deus!
CENA 17
Laura – Ainda a ouço dizer...
CENA 18
Mãe – Graças a Deus! Minha filha querida... Graças a Deus, que não foi você, Luiza...
CENA 19
Pedro – E nossa filha? Como você pôde?
Laura – Eu queria Pedro, mas eu não consigo...
Luiza – E sabe por quê?
Laura – Pensei em mamãe, na vergonha...
Luiza – Cínica!
Laura – O quê?
Luiza – Muito cínica! Nós duas sabemos o porque... Você sempre teve inveja de mim, Laura...
Laura – Nunca...
Luiza – Sempre! Quando éramos crianças você já fingia ser eu... Quantas vezes!
Laura – Era uma brincadeira, nós duas...
Luiza – E você gostava... Queria usar minhas roupas, até mesmo quando elas eram iguais... Você desejava a minha vida, você sempre quis...
Laura – Não...
Luiza – E agora que tem o que sempre desejou, percebe que nada adiantou... Você nunca vai conseguir ocupar o meu lugar, nem mesmo com mamãe...
CENA 20
Laura – O que foi mamãe, o que foi...
Mãe – Não sei... Você está muito estranha, Luiza... Se sua irmã não estivesse morta eu...
Laura – Não... Mamãe, eu estou aqui... A sua Luizinha está aqui!
Mãe – Não sei... Acho que é melhor você ir embora!
Laura – Mãe, o que está acontecendo?
Mãe – O que está acontecendo? Não sei... Vai! Eu quero ficar sozinha...
CENA 21
Luiza – Mamãe sente a minha falta... E você, Laura, não vai conseguir ocupar o meu lugar dentro do coração dela... Nem no dela, nem no de Fausto, nem no de minha filha...
Laura – Como eu queria que tudo isso fosse um sonho...
Pedro – Mas não é...
Laura – Como eu queria acordar e saber que tudo isso é um pesadelo horrível...
Pedro – Mas não é...
Laura – Eu sei que não, Pedro!
Luiza – Você devia estar feliz, Laura. Afinal, tem tudo o que sempre desejou: minha família, minhas roupas, minha vida... Tudo o que sempre quis! (ri) É, Laura, ou você prefere que eu te chame de Luiza...
Laura – Chega! Se eu soubesse... O que combinamos era uma noite, só uma noite! Eu não tenho culpa do que aconteceu... Eu não queria que fosse assim! Queria a minha vida de volta! Queria o meu marido de volta...
Luiza – Mentira!
CENA 22
Fausto – Luiza!
Laura – (abraça-o) Que bom que você está aqui... Eu estava me sentindo tão sozinha... Que bom! Que bom!
Fausto – Calma, Luiza! Calma!
Laura – Eu sempre quis abraça-lo assim...
Fausto – Você quer fazer amor?
Laura – (afastando-se dele) Não.
Fausto – Por quê? Por que, Luiza?
Laura – Não sei... Eu ainda não me sinto bem. Eu só quero poder abraçá-lo... (tenta abraçá-lo, mas ele afasta-a)
CENA 23
Pedro – Chega!
Luiza – Você não percebe que homem nenhum quer essa vidinha que você oferece? Não é, Pedro?
Pedro – É... Quer dizer, não!
Luiza – É melhor não dizer nada, Pedro! (ri) Você não consegue fazer um homem feliz, Laura! (ri) Minha irmãzinha, tão cheia de pudores!
Laura – Basta, Luiza! Chega...
Luiza – Então, chame Fausto e lhe conte tudo...
Laura – Não!
Pedro – Conta, Laura! É melhor para todos nós...
Luiza – Ele vai sofrer, mas pelo menos vai entender o que está acontecendo...
Laura – Mas e mamãe? E as pessoas...
Pedro – Conta, Laura! Lembre-se de nossa filha, você quase não a vê... Ela sente muita falta da mãe!
Luiza – Você é fraca, Laura! Não percebe que esta mentira é maior do que você pode suportar...
Pedro – Conta, Laura! Conta...
Laura – (grita) Fausto!
CENA 24
Fausto – O que está acontecendo, Luiza?
Laura – Precisamos conversar...
Fausto – Mas estou indo para uma reunião, depois a gente se fala...
Laura – Depois, não! Agora, nós precisamos conversar agora!
Fausto – Não deve ser algo tão importante, Luiza! Eu vou indo...
Laura – Espera! Você precisa ouvir... Muita coisa aconteceu desde o dia do assalto...
Fausto – De novo esta história, Luiza!
Laura – De novo, sim! Vamos falar sobre a verdade, Fausto! Uma verdade que nunca foi dita antes... A verdade! Você sabe o que significa: verdade?
Fausto – Do que você esta falando, Luiza? Enlouqueceu?
Laura – A verdade! É tão fácil escondê-la! (ri) Tão fácil mentir, enganar... Mentir, Fausto! A mentira existe, mas e a verdade? O que é a verdade, Fausto? Ela existe? A sua verdade... A minha verdade! Qual é a verdadeira verdade? A verdade é que sempre mentimos... Sempre, fingimos ser o que gostaríamos de ser! Mas não somos, Fausto! E mentimos tanto, que muitas vezes acreditamos nas nossas próprias mentiras... Então ficamos sem saber o que é verdade! Não sabemos mais se tudo o que vivemos é real... Mas quem quer viver o mundo real? Ninguém... Nem eu, nem você! Desejamos sempre mais do que temos! Desejamos ser o outro, ter o que o outro tem... E quando estamos sozinhos, no escuro... A cabeça encostada no travesseiro pesa! Pesa tanto que nos faz adormecer! E então os nossos fantasmas, nossos medos mais profundos, invadem nossas cabeças e temos pesadelos horríveis! E queremos acordar! E descobrimos que nunca estivemos acordados! Vivemos o sonho, a incrível mentira que criamos para nossa vida! Vivemos a vida de tantos que gostaríamos de ser! E o que eu sou realmente se perdeu em tanta mentira... Então... Já não sabemos se queremos voltar! Acordar não é tão fácil como mentir... A verdade nos machuca! Nos arranha! Nos destrói! A mentira, Fausto, deveria ser a verdade... E a verdade... Ah! A verdade essa deveria ser esquecida! (ri) Porque tudo o que eu quero agora, Luiza! Pedro! Tudo o que eu quero agora é viver a minha mentira! (ri) A minha mentira começa agora... E vou dormir e sonhar por muito tempo, talvez pela vida toda! E se vocês, fantasmas, tentarem me atormentar... Serão sufocados pela verdade... Engraçado! Serão sufocados pela minha verdade... (agarra Fausto, beija-o ardentemente e fazem sexo).
FIM