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quarta-feira, 29 de abril de 2009

"(...) o que é que elas têm a ver com o belo? - Mas o fedor!"


Há algumas semanas tenho lhe enviado a divulgação do espetáculo que faço parte, entretanto, decidi mudar minha divulgação e escrever-lhe uma pequena carta convite.

Nesta semana, completamos um mês de apresentação no Teatro João Caetano - um dos teatros distritais da Prefeitura da Cidade de São Paulo.
Em um mês pude olhar o vazio e deparar-me com o abandono, a não habitação, a falta de ação dos profissionais que ocupam cargos públicos.
No último domingo, recebemos a noticia que o técnico de luz não trabalharia e que, nesta semana, não estará nem sexta, nem sábado, nem domingo (os três dias de apresentação), pois trabalhará na virada cultural.
Qualquer teatro possui um técnico local, que tem por obrigação e dever estar presente no mínimo antes da sessão para verificar os equipamentos – neste domingo não pudemos usar refletores que não ligavam e não podíamos verificar a causa: queima, mau contato. No mesmo dia ao chegar ao teatro resolvi comer uma pipoca e não achava a pipoqueira, ao entrar na sala de espetáculos lá estava ela varrendo a sala e dizendo-me que limpava, pois não tinha ninguém para limpar a sala depois da sessão da tarde e já que ela faz a pipoca, talvez seja justo que ela limpe o local. Por fim, no mesmo domingo, pude escutar conversas e gritarias que vem se repetindo todas as semanas no hall do teatro enquanto acontece a sessão.
Serão estes apenas problemas administrativos, resolvidos apenas com contratações e demissões? Serão essas questões novas, atuais?
Não sei, sei que são o que os meus olhos enxergam no presente momento e só posso falar do que vivo. Não me meterei a desenvolver uma filosofia sobre as nossas políticas publicas e nem sobre as regras orçamentárias da nossa Cidade, mas torço para que aqueles que entendam que continuem escrevendo para que uma troca seja feita e que possamos fortalecer a nossa consciência.
Em tempos idos, o teatro João Caetano foi ocupado por grandes Cias. Teatrais que fomentaram a formação de público na região. Hoje essa realidade torna-se difícil: temos mais de 100 espetáculos em cartaz na cidade de São Paulo – o excesso, a quantidade tem sido a escolha de nossos cidadãos há um bom tempo. Também, a opção pela sobrevivência artística coloca os atores de minha geração (80/90) cada vez mais na chamada carreira “solo” e que abarca diversos trabalhos, fazendo com que deixemos cias. e pensamentos. Cabe-nos debruçarmos sobre a obra que nos chega ou que escolhemos e procurar injetá-la de vida, buscando, de alguma forma retratar a paisagem que vivemos no cotidiano e em outras esferas espaciais que ocupamos nesta cidade.
O convite que faço aqui é que não assista ao espetáculo, mas que visite este Espaço Vazio. Ele está lá de domingo a domingo e pode ser visitado, não tem hora para o Horror. Claro, se quiser passar na sexta no sábado ou no domingo à noite, será bem vindo e espero poder compartilhar deste momento. Se será agradável ou não, não posso garantir.
Convido você ao abandono, à solidão, ao vazio de um local que quase virou um estacionamento, mas a nossa Prefeitura comprou-o e lá esta ele – IMÓVEL.

Réquiem, de Hanoch Levin
Direção Francisco Medeiros
SEX SAB 21h DOM 19h
Teatro João Caetano
Rua Borges Lagoa, 650 (próximo ao metro Santa Cruz).

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