3 ATOS - Escola de Artes Cênicas

3 ATOS - Escola de Artes Cênicas Rua Aquidaban, 234-b, Centro Fone: (16) 3411 1408 ou 34 16 1997

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

CONVITE PARA A PEÇA "SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO"














"SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO", de William Shakespeare, é a terceira montagem do NÚCLEO DE TEATRO DO SAPIENS DE SÃO CARLOS.


SINOPSE

Dois jovens apaixonados são impedidos, pelo pai e pelo pretendente da moça, de se casarem, então decidem fugir juntos, mas uma série de encontros e desencontros os levará a viver uma noite mágica entre seres encantados, que possuem uma estranha poção do amor.


Adaptação e Direção: Alexandre Rodrigues



Dia: 14 de novembro.

Horário: 20 horas.

Local: Teatro Florestan Fernandes (UFSCAR)



Entrada franca.



quarta-feira, 22 de outubro de 2008

CONVITE: MÁSCARAS, NO TEATRO FLORESTAN FERNANDES

O espetáculo “Máscaras”, que será apresentado pelo NÚCLEO DE TEATRO DO SAPIENS DE SÃO CARLOS, conta a história dos personagens “Caras de Tudo” (mascarados) que ao conhecerem os “Caras de Nada” (desmascarados) não conseguem entender como podem existir pessoas sem máscaras. Os “Caras de Nada” querem participar do grupo para poder brincar, e vários jogos são propostos para a inclusão deles. Quando os “Caras de Tudo” começam a compreender quem são os personagens sem rosto definido, estes desaparecem. A peça de Luciano Luppi nos faz refletir sobre quem realmente somos...


Usamos muitas MÁSCARAS e nem percebemos. Assumimos vários personagens e nem decoramos textos. Posamos de várias formas e nem trocamos de vestimenta. Às vezes até colocamos de propósito. Se necessário, até fazemos roteiro. Um traje adequado, faz parte da cena. Isso é viver. Vivemos atuando. Representamos da melhor forma. Mas são representações sinceras, honestas... Quando colocamos máscaras, perdemos a nossa face. Perda muitas vezes, irrecuperável. Ou quem sabe, recuperada tarde demais. Viva, represente o seu papel na vida. Mas nunca, nunca perca a sua face.”

Autor desconhecido



DIA: 14 de novembro.

LOCAL: Teatro Florestan Fernandes (UFSCAR).

HORÁRIO: 19 horas.


ENTRADA FRANCA.






sábado, 18 de outubro de 2008

Convite: TEATRO NO SESC ARARAQUARA

Segundo Millôr Fernandes, autor da peça:
“’A história é uma istória’ sem ‘h’, ou ‘A história é uma história’ com ‘h’, como escrevem os ortodoxos, ou ‘A história é uma estória’ com ‘e’, como inventaram os pré-moderninhos, é um pequeno apanhado de idéias razoavelmente idiotas, ou relativamente tolas, que se foram formando nestes últimos quatro ou cinco mil anos. É uma visão do mundo derivada, claro, de que o Homo, que era ‘faber’ e passou a ‘sapiens’, só terá salvação quando se tornar ‘ludens’. O que eqüivale a dizer que o bípede implume não tem salvação. É, definitivamente, um animal inviável.”


Núcleo de Teatro do Sapiens de Araraquara: SNEIPAS
Peça: A HISTÓRIA É UMA ISTÓRIA E O HOMEM É O ÚNICO ANIMAL QUE RI
Autor: MILLÔR FERNANDES
Adaptação e Direção: ALEXANDRE RODRIGUES

LOCAL: TEATRO DO SESC ARARAQUARA
DIA: 31 DE OUTUBRO
HORÁRIO: 20 HORAS
ENTRADA FRANCA


CONVITES ANTECIPADOS NO SAPIENS ARARAQUARA.








Texto da Peça: "COMO VAI A LOUCURA?"


Caso queiram montar essa peça entrar em contato com o Núcleo Arame D'Arte de Estudos Teatrais através do email: aramedarte@gmail.com


“A peça questiona os limites da loucura cotidiana, salientando sempre a solidão, principal causa dessa loucura. A hipocrisia humana é encontrada em todos os momentos: entre risos e tristezas, todas as personagens estão perdidas dentro do seu próprio mundo.”

COMO VAI A LOUCURA?
De Alexandre Rodrigues


Todos os personagens estão presos em um sanatório e vestem camisas de força. Alguns estão presos atrás de uma grade que cobre toda a frente do palco, outros estão espalhados pela platéia. A iluminação é composta de velas e lanternas.

CENA 1

HOMEM – (preso no palco, segura uma foice) Bela, tão bela é a morte. Um resto de vida, a saída para o fim. Um coro de anjos e gritos do inferno. Tão longe e tão perto, rápida e lenta, mas apenas fria. Gélida como os sonhos dos miseráveis, presos, da falta de amor, velha amiga da solidão. Busca teu espaço, enterra. Mero funeral, mas é à hora, amanhã tudo será esquecido e passado para traz.

LOUCA 1 – (presa na platéia) Foge, foge enquanto consegue correr...

LOUCA 2 – (presa na platéia) Deus não existe nessa hora...

LOUCA 3 – (presa na platéia) É o dilúvio, foge... Foge, vamos todos morrer afogados...

HOMEM – (presa no palco) De tudo que é dor, seremos o resto, o resto do mundo, e mais nada existirá, nem mesmo “um homem, uma mulher e uma flor”.

LOUCA 3 – (presa na platéia) Os livros estão sendo queimados em praça pública...

LOUCA 1 – (presa na platéia) Todos estão livres, corram... Vocês estão livres...

HOMEM – (presa no palco) Livres para a morte.

LOUCA 2 – (presa na platéia) Deus seja louvado...

HOMEM – (presa no palco) Enfim sós.

CORO – (todos os personagens) SOLIDÃO, SOLIDÃO, SOLIDÃO...

LOUCA 3 – (presa na platéia) O início da loucura, porque toda sorte já foi lançada, tudo será avaliado e distribuído...

LOUCA 2 – (presa na platéia) Em doses de medo e desespero...

LOUCA 1 – (presa na platéia) Escondam todas as crianças...

LOUCA 3 – (presa na platéia) Mulheres na frente...

LOUCA 2 – (presa na platéia) Amém...

CENA 2
Os personagens estão presos na platéia e iluminam o próprio rosto com lanternas.

ELE – Parece que tudo acabou.

ELA – Só sobrou o vazio.

ELE – O fim chegou rápido.

ELA – Como o “fim do primeiro tempo”. Onde foi que você errou?

ELE – Acordei atrasado e não vi o sol nascer.

ELA – Está escuro, tão escuro...

ELE – Acenda a luz.

ELE – Pronto, assim é melhor, agora eu posso ver como você envelheceu.

ELA – Fiz só oitenta e três, mas me sinto muito mais velha.

ELE – Eles foram ao teatro.

ELA – Foram ver TV... Ouve, ouve os pássaros gritando, ouve os mudos cantando, ouve o coro da torcida...

CORO – (todos os personagens) Gol!!!

CENA 3
Estão presos no palco e criam, com cadeiras, dois ambientes parecidos com sala de televisão e tribunal.


MARIDO – Desliga a TV... Eu não agüento mais: futebol, futebol...

ESPOSA – O que será que aconteceu?

MARIDO – O que será que aconteceu?

ESPOSA – O que será?

MARIDO – O que aconteceu?

ESPOSA – Sei lá.

MARIDO – Eu não sei.

ESPOSA – Não fui eu.

MARIDO – Foi você.

ESPOSA – Não foi, juro que não foi...

ADVOGADO – Senhoras e senhores, estamos aqui para acusar está mulher de crime hediondo e exijo senhor juiz que não seja aceito pagamento de fiança.

JUIZ – Ordem, ordem no tribunal... Do que está mulher é acusada?

ADVOGADO – De assistir futebol de segunda á sábado, no horário comercial e jogar aos domingos.

JUIZ – Ordem, ordem... Silêncio... 5, 4, 3, 2, 1... Declaro-a culpada, com direito a um último desejo.

ESPOSA – Fumaça, fumaça, fumaça vermelha, muita fumaça...

CENA 4
Presos na platéia se iluminam com lanternas.


ELA – Essa não é nossa casa.

ELE – Essa é...

ELA – Isso é um buraco.

ELE – Isso é...

ELA – Que horas são?

ELE – Tarde.

ELA – Que horas são?

ELE – Cedo.

ELA – Você não sabe?

ELE – Eu não sei...

ELA – Por que acabou?

ELE – O quê?

ELA – Tudo.

ELA – Era hora...

CENA 5
Presos no palco.


ELA 2 – (dá uma flor para ele dois) Por que você sempre faz isso?

ELE 2 – (joga a flor no chão e pisa sobre ela repetidas vezes) Você não entende!

ELA 2 – Também você nunca me ensinou...

ELE 2 – Existem coisas que temos que descobrir sozinhos... E essa é uma delas!

ELA 2 – Mas você não devia pisar sobre flores, dizem que elas sentem quando são maltratadas...

ELE 2 – Sabe por que você é tão problemática? Porque você sempre age com a emoção, se às vezes esquecesse esses seus sentimentos hipócritas e usasse mais a razão tenho certeza que você seria muito mais feliz.

ELA 2 – Olha lá uma estrela cadente faça um pedido! “Eu queria que você aprendesse a ser mais humano!” (dá uma nova flor para ele, mas, novamente ele pisa sobre ela) Às vezes os sonhos não se realizam porque somos duros demais para percebê-los.

CENA 6
Anda pela platéia, carregando um candelabro com velas acesas.

MÃE – FILHINHA VEM CÁ, VEM COM A MAMÃE... FILHINHA, MAMÃE ESTÁ AQUI...

CENA 7
Presos no palco sentados sobre pequenos bancos
.

ELE 3 – (dando um pequeno presente) Eu trouxe esse presente para você...

ELA 3 – Que lindo, adorei. (dando um pequeno presente) Eu também trouxe um para você .

ELE 3 – (abre e vê que é uma caixa vazia) Que linda essa caixinha.

ELA 3 – Tem a sua cara.

ELE 3 – Eu estava com saudade.

ELA 3 – Eu também.

ELE 3 – E aí, o que fez ontem?

ELA 3 – Nada.

ELE 3 – Nada?!

ELA 3 – Dormi. E você?

ELE 3 – Fiz um monte de coisas, mais o mais importante é que pensei em você.

ELA 3 – Ah... Que legal!

ELE 3 – Legal?! E aí, o que a gente vai fazer hoje?

ELA 3 – Nada.

ELE 3 – Como nada?

ELA 3 – Amanhã tenho que trabalhar, dormir cedo, não vai dar.

ELE 3 – Você também só trabalha e dorme, não pensa em fazer outras coisas?

ELA 3 – Ah é? E quem vai me sustentar, pagar minhas contas? Você, por acaso?

ELE 3 – Então, quando a gente se vê?

ELA 3 – Na sexta.

ELE 3 – Na sexta não dá, que tal amanhã?

ELA 3 – Já disse que não vai dar.

ELE 3 – Por quê? Você não disse que estava com saudades...

ELA 3 – Mas, amanhã não dá.

ELE 3 – Estou achando isso muito estranho, alguma coisa tem aí.

ELA 3 – Sexta.

ELE 3 – Você sabe que não posso, já está perto da apresentação. Amanhã?

ELA 3 – Sexta.

ELE 3 – Sexta eu não posso.

ELA 3 – Então fica com seu ensaio, eu vou embora. (sai)

ELE 3 – Ela volta. (passa um curto espaço de tempo)

ELA 3 – (volta correndo) Desculpa...

ELE 3 – Tudo bem.

ELA 3 – (dando outro presente) Trouxe um presente para você.

ELE 3 – Eu adorei. Vamos sair amanhã.

ELA 3 – Sexta.

ELE 3 – Você está querendo brigar, já disse que sexta tem ensaio... Por que não amanhã?

ELA 3 – Você também só pensa nesse ensaio.

ELE 3 – E você em dormir.

ELA 3 – Sabe de uma coisa? Eu vou embora. (sai)

ELE 3 – Ela volta. (demora um pouco mais que da outra vez)

ELA 3 – (voltando) Desculpa...

ELE 3 – Tudo bem, eu comprei outro presente para você (dando um outro presente).

ELA 3 – Obrigado.

ELE 3 – E aí.

ELA 3 – E aí, o que?

ELE 3 – Que tal amanhã?

ELA 3 – Sexta.

ELE 3 – Sexta, é? E onde você vai me levar?

ELA 3 – Num parquinho perto da minha casa.

ELE 3 – Ah, que legal... Parquinho, né? Interessante, mas já falei que sexta não dá.

ELA 3 – Sabe de uma coisa, eu cansei.

ELE 3 – Eu é que cansei, você nunca tem tempo para mim.

ELA 3 – E você, se você gostasse de mim faltaria a esse ensaio.

ELE 3 – Já disse que não dá.

ELA 3 – Então fique você com esse ensaio que eu vou embora. (sai)

ELE 3 – Ela volta. Ela sempre volta... (passa o tempo) Ela está demorando, mas ela volta... Já vou até preparando o presente, que daqui a pouco ela está aí... Acho que estou bem assim, né? Ela nunca demorou tanto, será que ela não vem...?

CENA 8
Presos na platéia.

ELE 4 – Cala a boca.

ELA 4 – Não calo.

ELE 4 – Cala.

ELA 4 – Não calo.

ELE 4 – Eu conto tudo para sua mãe.

ELA 4 – Contar o que?

ELE 4 – Tudo o que a gente fez.

ELA 4 – Não conta.

ELE 4 – Conto.

ELA 4 – Não conta.

ELE 4 – Conto.

ELA 4 – Não conta.

ELA 4 – Conto.

ELA 4 – Então conta.

ELE 4 – Não conto.

ELA 4 – Eu sabia, você é um covarde, é isso que você é: “UM COVARDE”.

ELE 4 – Você está louca.

ELA 4 – Louca é? Então estou... Hei, vocês estão vendo? Eu estou louca, louca, louca... (entram loucos vestidos de médicos e começam a levá-la) Vem, vem que estou louca... Me larguem, me larguem, eu não quero ir... Eu não sou louca... Ele é que é louco... Ele quer que eu vá para o hospício... Me larga, me larga... Me deixa...

CENA 9
Presos no palco.


MULHER DO BÊBADO – (carrega um bebê nos braços) Eu não te agüento mais bebendo. Homi tua filha tem fome, e você gasta tudo em bebida. Eu não agüento mais, eu e minha filha vamos embora... Entendeu? Nós vamos embora.

BÊBADO – Mas eu te amo.

MULHER DO BÊBADO – Mas amor não enche barriga, homi de Deus... Eu estou com fome, fome de vida. (ele tenta abraçá-la) Sai, homi de Deus... (pausa) Eu só fico se ocê parar de beber.

BÊBADO – Eu paro.

MULHER DO BÊBADO – Tu para mesmo?

BÊBADO – Paro.

MULHER DO BÊBADO – Jura?

BÊBADO – Juro.

MULHER DO BÊBADO – Por sua mãe pregada na cruz?

BÊBADO – Juro.

MULHER DO BÊBADO – Então tá. (pega a garrafa das mãos do bêbado e bebe) Me dê cá um gole e vamos beber para comemorar.

CENA 10
Sentados em cadeiras na platéia. São iluminados pelas lanternas dos outros personagens.

VELHO – Todo sonho acabou.

VELHA – Você tem certeza que era hora?

VELHO – Sinceramente não sei.

VELHA – Nunca mais vou ver o sol?

VELHO – Acho que não.

VELHA – Você lembra de quantas vezes a gente ficou vendo o sol nascer? O sol se por?

VELHO – Éramos tão jovens.

VELHA – Você era tão romântico.

VELHO – Você tão linda como hoje...

CENA 11
Anda pela platéia, carregando um candelabro com velas acesas.


MÃE – FILHINHA VEM, A MÃE TE AMA FILHINHA...

CENA 12
Presos no palco. Estão deitados como se estivessem em uma cama.


NAMORADO – Shiu! Você consegue ouvir?

NAMORADA – Parece ser o canto da cotovia.

PAI – (entra) O que significa isso?

NAMORADA – Não pai, não pai... Não é nada do que o senhor está pensando pai... Eu e o Marcos, somos apenas amigos.

PAI – Lógico... Lógico...

NAMORADA – Que bom que o senhor entendeu pai...

NAMORADO – O senhor até me deixou assustado...

PAI – Vão casar, vocês vão casar, seus vagabundos, envergonhar meu nome, nunca...

CENA 13
Sentados em cadeiras na platéia. São iluminados pelas lanternas dos outros personagens.

VELHO – Acabou o sonho, acabou...

CORO – (todos os personagens) ACABOU O ARROZ, ACABOU O FEIJÃO, ACABOU... ACABOU, ACABOU TUDO.

CENA 14

JUIZ – (preso no palco) Um minuto de silêncio, logo irão pregá-la na cruz...

FOFOQUEIRA1 – (presa na platéia) Do que ela é culpada?

FOFOQUEIRA2 – (presa na platéia) Sei lá.

FOFOQUEIRA1 – (presa na platéia) Só sei que deve ser horrível...

FOFOQUEIRA 2 – (presa na platéia) Para ela ser condenada, coitada...

ESPOSA – (presa no palco, girando) Fumaça, fumaça, fumaça vermelha, fumaça.

JUIZ – (preso no palco) Então, qual é seu último desejo?

ESPOSA – (presa no palco) Voar, voar... Poder ver o mundo de cima, sentir o vento tocar meu rosto, voar como urubus em noite de festa, voar, voar e bater asas...

CENA 15
Presos na platéia.


PADRE – Então, se tem alguém que queira declarar alguma coisa para impedir esta comunhão de bens que fale agora ou...

AMANTE (homem) – (levanta no meio do público) Eu tenho...

CORO – (todos os personagens) OH...

PADRE – Pois não, pode falar...

AMANTE (homem) – Essa mulher é mãe do meu filho...

CORO – (todos os personagens) OH...

AMANTE (homem) – É isso mesmo, estou de oito meses... Essa cachorra me deixou prenho, eu mais meu irmão, ele também está grávido de seis meses.

CORO – (todos os personagens) OH...

NOIVA – É mentira... É tudo mentira...

CORO – (todos os personagens) OH...

NOIVA – Eu posso provar...

CORO – (todos os personagens) AH...

PADRE – O que você explica disso, D. Maria? Vamos lá, então prove?

CENA 16
Presos no palco.


PACIENTE – (deitada em cadeiras que formam um divã) Tudo começou na minha infância, sabe Doutora?

PSICÓLOGA – Entendo D. Maria...

PACIENTE – Meu pai me batia, minha mãe me batia, meu irmão me batia, minha vizinha me batia, meu cachorro me mordia...

PSICÓLOGA – Seu problema é um só D. Maria: SÍNDROME CANINA.

PACIENTE – Au, au! A senhora acha, Doutora? Au! Tem cura?

CORO – (todos os personagens) TCHã, TCHã, TCHã!!!

PSICÓLOGA – Adivinha!

CENA 17
Anda pela platéia, carregando um candelabro com velas acesas.


MÃE – FILHINHA, VOCÊ NÃO PODIA, FILHINHA. A MÃE PRECISA DE VOCÊ...

CENA 18
Presos na platéia se iluminam com lanternas.


ELA – Todo dia agora quando eu abrir os olhos, e vou ver esse buraco?

ELE – Talvez...

ELA – E nossa casa, ela era tão bonita, como a gente sempre sonhou.

ELE – Eu faço outra para você.

ELA – Eu não quero.

ELE – Eu também não.

ELA – Então é assim.

ELE – Será sempre assim?

ELA – Sim... Onde está nosso jardim?

ELE – O tempo comeu.

ELA – Onde está o tempo?

ELE – Está no relógio.

ELA – Onde está o relógio?

ELE e ELA – Sumiu, sumiu...

CENA 19
Presos no palco.


PSICÓLOGA – Foi culpa dela?

PACIENT E – Dela quem, Doutora?

PSICÓLOGA – Sente-se aqui D. Maria e pense comigo: “João amava Teresa que amava Joaquim que amava, etc...”

PACIENTE – Entendo, entendo...

PSICÓLOGA – Sorria D. Maria, essa é a solução.

PACIENTE – Como assim?

PSICÓLOGA – Você amava um, depois outro e agora vai se casar com um terceiro...

PACIENTE – Sim?

PSICÓLOGA – Então?! No fundo do coração a senhora descobrirá um amor platônico por um único homem...

CORO – (todos os personagens) QUEM? QUEM? QUEM?...

PSICÓLOGA – Seu, seu... Cachorro.

CENA 20
Presos na platéia.


NOIVA – O senhor me entende agora, padre?

PADRE – Diante das circunstâncias, minha filha, declaro que essa comunhão de bens é, é...

CENA 21
Anda pela platéia, carregando um candelabro com velas acesas.


MÃE – FILHINHA, EU TINHA TANTOS PLANOS PARA VOCÊ, FILHINHA VEM CÁ...

CENA 22
Presos na platéia.


NOIVA – O que, padre?

PADRE – Essa comunhão é, é... Sabe D. Maria, eu esqueci, mas tenha certeza: “Deus vai nos guiar”.

NOIVA – Para onde, padre?

CENA 23
Sentados em cadeiras na platéia. São iluminados pelas lanternas dos outros personagens.


VELHO – Pelo paraíso, lá onde é claro, fresco, onde o ar tem perfume, onde a água tem sabor, onde os sonhos são reais... Talvez um dia poderemos estar lá.

VELHA – Demora.

VELHO – Sim.

VELHA – Você sabe onde fica?

VELHO – Logo ali na frente...

VELHA – Não consigo ver.

VELHO – Nem eu.

VELHA – Nós estamos cegos?

VELHO – Não sei.

VELHA – Eu vejo teu rosto. Você vê o meu?

VELHO – Vejo.

VELHA – É tudo tão estranho.

VELHO – Simples.

VELHA – O quê?

VELHO – A sombra que faz!

VELHA – Qual?

VELHO – Dorme.

VELHA – Durmo.

VELHO – Esquece.

VELHA – Esqueço. (Adormecem, um encostado no outro)

CENA 24
Presos na platéia.


ELA 4 – Ouve lá, parece que tem mais alguém aqui.

ELE 4 – Talvez.

ELA 4 – Vamos procurar?

ELE 4 - É melhor não.

ELA 4 - Por quê?

ELE 4 - Poderá ser um susto.

ELA 4 – Pisque boca.

ELE 4 – Feche ouvidos.

ELA 4 – Cala coração.

ELE 4 – Respira, respira...

ELA 4 – Em silêncio.

ELE 4 – Percebe, é o som do seu coração que canta, seu pulmão que chora, seu cérebro que fala...

ELA 4 – (ouve um barulho) É o telefone.

ELE 4 – É o despertador.

ELA 4 – Atende.

ELE 4 – Desliga.

ELA 4 – Liga.

ELE 4 – Desliga.

ELA 4 – Acaba.

ELE 4 – Acabo.

ELA 4 – Bom dia loucura!

ELE 4 – Boa tarde loucura!

ELA 4 – Boa noite loucura!

ELE 4 – Que loucura?!

ELA 4 – Quem é louco?

ELE 4 – Nós todos somos loucos...

CENA 25
Presos na platéia.


LOUCA 1 – Porque loucura é estar vivo! É ter que engolir tudo aquilo que nos foi imposto.

LOUCA 4 – É sentir fome, medo, é viver está “liberdade”, preso a regras e decisões, em que nunca fomos questionados...

LOUCA 3 – Ser louco é apreciar coisas pequenas...

LOUCA 1 – É amar e se entregar a esse amor...

LOUCA 4 – Sim somos todos loucos, pois loucos são aqueles que fazem aquilo que lhe dão prazer.

LOUCA 3 – Enquanto outros não conseguem encontrar a si mesmos.

LOUCA 4 – E pensar que existem loucos que se preocupam com nossas vidas sem saber que existe vida na loucura.

CENA 26
Presos na platéia.


ELA 4 – Existe sonho.

ELE 4 – Ouçam o canto.

ELA 4 – Essa é a hora.

CORO – (todos os personagens) Porque a loucura, a loucura vai bem, muito bem, obrigado!

CENA 27

MÃE - FILHINHA MAMÃE TE AMA, EU PRECISO DE VOCÊ, FIZ TANTOS PLANOS, FILHINHA... (sobe no palco) Olhei por todos os lados. Andei, procurei. Dias, meses, anos de caminhada a procura de não sei o que. Quando tentei olhar eu não vi. Quando busquei amor, eu somente o perdi, me disseram algo sobre felicidade, mas tudo no que acreditei sumiu, desapareceu, como desenhos no chão. E quanto mais procurava mais distante me sentia estar. Hoje, quando olho no espelho sei que tudo eu pude viver, quando fui triste ou feliz, quando me perdi e procurei encontrar, quando me disseram, loucura menina, deixe estar, temos que viver, temos que continuar, mas tenham certeza, tudo o que eu ou vocês possam procurar, tudo de bom e de mal estará sempre dentro de nós mesmos.

FIM

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

PAPO DE ANJO



O ano passado eu tive a oportunidade de assistir, no SESC de São Carlos, aquele que seria um dos melhores espetáculos que já vi em minha vida: PAPO DE ANJO.
O espetáculo de rua criado pela Cia. Malarrumada, de Belo Horizonte, é tocante, emocionante, provocador das mais diversas sensações...
Ao término do espetáculo não sabia se sorria ou chorava, mas tinha uma certeza: ir em busca do meu "balão vermelho"...
PAPO DE ANJO estreou em agosto de 2005 em Belo Horizonte e depois foi apresentado em praças de diversos estados brasileiros, tendo grande sucesso de público e crítica.
A Cia. Malarrumada tem um núcleo de excelentes atores que além de representar, cantam, dançam e, principalmente, emocionam...
Vale a pena conferir!!!!

SER ARTISTA...


http://www.tanarua.com.br/

Palavras do pessoal do grupo Tá na Rua...


Ser artista é uma possibilidade que todo ser humano tem, independente de ofício, carreira ou arte. É uma possibilidade de desenvolvimento pleno, de plena expressão, de direito à felicidade. A possibilidade de ir ao encontro de si mesmo, de sua expressão, de sua felicidade, plenitude, liberdade, fertilidade está ao alcance de todo e qualquer ser humano. Isso não é um privilégio do artista, é um direito do ser humano; de se livrar de seus papéis, de exercer suas potencialidades e de se sentir vivo. Todo mundo pode viver sua expressão sem estar preso a um papel. Não se trata de ser artista ou não, mas de uma perspectiva do ser humano e do mundo. Não se trata só de todos os artistas serem operários, mas também de todos os operários serem artistas. Das pessoas terem relações criativas, férteis e de transformação com o mundo, a realidade, a natureza, a sociedade. O homem não está condenado a ser só destruidor, consumista, egoísta como a sociedade nos leva a crer. (Telles, 2006, apud Tá Na Rua, p. 62)

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

TEATRO NA EDUCAÇÃO - O QUE É, AFINAL?


Esse texto foi escrito por Fanny Abramovich, uma leitura fácil, mas também uma profunda reflexão sobre a atividade teatral na escola...


Mistério! Dúvida! Inquietação! Afinal de contas, o que é esta matéria nova, repentinamente incluída na programação escolar, com o nome mutável de teatro, artes cênicas, improvisação teatral, expressão dramática? Em que consiste? De que se trata?

HIPÓTESE 1 - São festinhas ligadas a temas cívicos (Dia da Pátria), familiares (Dia das mães), comemorações efemérides em geral (Semana do Índio), etc. Nada disso. Essas "festinhas" onde se pretende organizar, segundo a ótica e visão adultas, uma comemoração que nada tem a ver com a criança e/ou adolescente, são meros pretextos para um falso exibicionismo, nem por um momento ligado a uma atividade espontânea, lúdica, solta, do aluno. Querer determinar uma data, um dia, onde a criança possa se expressar é um pouco autoritário. E, se acrescentarmos que nessas ocasiões não há nenhuma atividade expressiva ( a não ser a da professora), além do clima histérico que as precede, fica a pedagogia a perguntar muito sobre o porquê dessas realizações...O fato de se revestirem de um aparato solene (tirando todo o caráter de jogo) e o fato de se levarem as crianças a meras repetições estereotipadas têm demonstrado, de maneira inequívoca, que são antipedagógicas e que o caminho não é esse.

HIPÓTESE 2 - É a constituição de um grupo dramático na escola. Nada disso, também. Se a expressão é um direito de qualquer indivíduo, a formação de um grupo selecionado com critérios do "tem jeito para" só leva à formação de vedetes (em geral insuportáveis). E estrelismo nunca foi objetivo educacional. Além do mais, encarada dessa maneira, passa a ser uma atividade marginalizante. E, se está integrada no currículo, não pode ser marginalizante. Se a própria escola não separa os alunos que estudam inglês dos que fazem ginástica, por que separá-los em uma atividade tão essencial quanto as demais? Sabe-se que a expressão não é um dom divino mas uma forma de contato humano. Então, por que voltar ao monte Olímpo? Não, este caminho é muito pouco pedagógico, muito elitista e fundamentado em falsos critérios.

HIPÓTESES 3 - Bem, está legal! A gente não forma um grupo amador na escola, mas monta espetáculos com os alunos. Este poderia ser um caminho, mas numa fase muito posterior à introdução da atividade na escola. Porque, quando se começa selecionando textos (com os critérios augustos do professor), continua-se por selecionar alunos (e volta-se àquele perigoso enfoque do "tem jeito") e faz-se o aluno repetir infinitamente o texto (onde ele cria? quando ele se expressa? quando ele brinca?), de repente, percebe-se que se está muito mais preocupado com o resultante (afinal o que pensará o público que assistirá à montagem?) do que com as possibilidades de o aluno desenvolver o seu próprio processo, encontrar suas próprias respostas, descobrir as suas possibilidades (e parece que qualquer planejamento escolar prega essas últimas alternativas).

HIPÓTESE 4 - Bem, então a gente usa essa matéria para clarear conceitos das disciplinas e áreas. Até que também poderia ser, sabendo-se que qualquer aprendizagem vivenciada tem resultados muito mais seguros. Mas não é só isto. Reduzir uma atividade expressiva a um mero "audiovisual" das matérias é empobrecer muito as possibilidades dramáticas. Ninguém está dizendo para não o fazer mas que seja de modo equilibrado, permitindo que o aluno incorpore melhor os conceitos, e permitindo também que ele dê a sua visão do mundo, das coisas, que invente, que se divirta.

HIPÓTESE 5 - A gente usa para saber as dificuldades, os problemas do aluno, as suas inquietações. Calma, muita calma! E a gente, professor, sabe lidar com eles? Tem formação psicológica suficiente para desencadear emoções com as quais a gente não sabe o que vai fazer? Tem direito de mexer com um nível mais sério e comprometido da afetividade dos outros? Pode permitir que aflorem ataques histéricos, comportamentos ambíguos ao nível de uma situação de classe? À gente só cabe perceber estas dificuldades, e, se for o caso, encaminhar a quem tenha formação profissional para lidar com elas.

HIPÓTESE 6 - Muito bem, então a gente ensina História do Teatro. Também poderia ser uma alternativa, falando-se de ensino médio, quando o adolescente já tem uma certa noção de história, de tempo, de espaço, de sociologia, de cultura, para que se possa discutir com ele um aspecto específico da História da Arte. Mas não esquecendo que esta seria apenas uma angulação (e importante, quando o aluno vai formando seus critérios, suas relações de informações, seu próprio enfoque, levantando as contradições das próprias informações, pensando divergentemente e descobrindo seu próprio posicionamento perante os fatos), e que isto não elimina o desenvolvimento paralelo da atividade criadora.

HIPÓTESE 7 - Bem, não sei mesmo o que fazer... Levo os alunos para ver um espetáculo (ou espero que se ofereçam na escola) e pronto. Estou formamndo o futuro público. Será? Será, mesmo, que os espetáculos infanto-juvenis (!) que se apresentam merecem todos serem vistos? Bem, realmente, é importante que se forme um novo público. Mas será que as crianças de hoje, vendo os espetáculos que em geral (com as honrosas exceções de sempre) lhes são destinados, acreditarão, um dia, que teatro é algo que vale a pena ser visto? Seria melhor que, antes, a própria professora assistisse ao espetáculo. E ter presente que um espetáculo é uma ocasião excelente para desenvolver-se o sentido crítico dos alunos (elemento primordial do trabalho criativo), para assistir-se e discutir-se muito, não fazendo das crianças espectadoras passivas e sem critérios. Senão, não há sentido em se levar alguém para ver alguma coisa. E lembrando que é fundamental ao aluno encontrar a sua própria visão, lúcida, consciente e crítica, do que viu.

Muito bem, se não é nada disso, o que é? Ora, é tão simples! Basta reler as "hipóteses" e as suas argumentações. E encontrar, na própria discussão, algumas respostas. O "mistério" está na visão estereotipada de que teatro na educação é espetáculo. É claro que nenhum professor sente-se em condições de dirigir uma peça. Se não é montar algo, é, ludicamente, possibilitar que os alunos se expressem, fazer com que eles inventem a sua "história" e encontrem a melhor forma de mostrá-la a seus amigos (não precisa de platéia especial). Onde? Na descoberta do próprio espaço que a escola oferece (não precisa de nenhum palco). Sem material? Claro, com o material que os alunos descobrem na própria escola, nas imediações, trazem de casa. Quando? Sempre, porque toda atividade que é um jogo não tem data prévia para acontecer. E eu, o que faço? Olho o jogo espontâneo e o enriqueço, possibilitando outras alternativas, sem me preocupar em dar o meu enfoque. Pouco misterioso, não é? É só olhar as crianças na hora do recreio, na rua, para ver que elas estão sempre "brincando de teatro". E basta a gente lembrar de como "fazia teatrinho" quando era criança, lá no quintal de casa...

PARÁBOLA ALEGÓRICA SOBRE O TEATRO E A EDUCAÇÃO




João sentava-se em sua carteira, assim como os outros trinta alunos que estavam em sua sala de aula. A carteira era pequena para João, não que ele fosse grande, muito pelo contrário, ele era um garoto bem franzino.
A carteira era o limite. João ali se sentia como o seu canarinho, que vivia engaiolado. Ao se mexer, às vezes, derrubava o seu material no chão e quando isso acontecia já sabia que a professora, presa em sua mesa, lhe chamaria a atenção em voz alta, o que fazia a estatura franzina de João diminuir, a ponto de quase sumir sob a carteira.
A carteira limitava João e os outros alunos, a mesa protegia a professora. A carteira era pequena, a mesa era grande. João era só mais um aluno, mas a professora, a professora era a professora, ora! Ela esparramava sobre a sua mesa o material que trazia em sua pasta. Na carteira de João mal cabia o caderno de desenho, os lápis de cor tinham que permanecer dentro do estojo dentro da bolsa.
A aula de Educação Artística era tão esperada quanto à aula de Educação Física. Era à hora de se soltar! Mas como voar preso numa gaiola? Na aula de Educação Física João corria, livre, pois o professor ficava escondido atrás de um jornal à aula toda. Na aula de Educação Artística tinha desenho livre! Mas, só tinha desenho livre.
João já tinha ouvido a professora reclamando: Como dar aula de Artes só com lousa e giz? Mas João não entendia, ele gostava de fazer desenho livre.
João queria ser artista quando crescesse, mas ele era um garoto tímido. Já estava acostumado a ouvir os comentários nas reuniões de pais: "Ele não fala! Parece mudo! Ele deve ter algum problema! Ele é anti-social!"
Mas ele não era mudo, muito pelo contrário falava até demais, os amigos da sua rua sempre reclamavam: "Ele é um tagarela! Não para de falar!"
Na casa de João tinha um corredor, grande, e foi lá que ele teve uma grande idéia: fazer uma apresentação de teatro de bonecos. João nunca havia visto uma apresentação de teatro, muito menos de bonecos, mas isso não o impediu de escrever sua primeira peça, confeccionar os bonecos e atuar. A apresentação foi um sucesso. João sentiu-se realizado com os aplausos dos colegas da sua rua.
E foi então que ele tomou uma decisão: ser ator! Mas não qualquer ator, João queria ser ator de Teatro. E a partir deste dia sua carteira ficou menor, de garoto tímido ele passou a ser rebelde, inquieto. Já não conseguia mais ficar calado e começou a questionar a professora: "Quando teremos aula de teatro?"
A professora, atrás de sua mesa, ficou incomodada, afinal não é importante aprender Teatro, tanta coisa mais importante: pintores, escultores... E atrás de sua mesa ela continuou, mas a insistência de João foi tamanha, que um dia ela chegou e disse: "Montaremos uma peça de Natal!"
João ficou tão feliz com a notícia que queria correr, saltar, gritar, e devido sua explosão a carteira caiu no chão fazendo um enorme estrondo. O pior aconteceu, ele tentou se explicar, se desculpar, mas recebeu um castigo, o pior de todos para João, ele não participaria da peça de Natal.
E durante a montagem da peça João ficava preso em sua gaiola, e a professora sentia-se, novamente, segura em sua mesa.
Para João foi uma tristeza só. Chorou. E escreveu um Auto de Natal, ele nem sabia que era, mas era, e como era triste. Reuniu um grupo de colegas e preparou com todo cuidado, era a primeira vez que João dirigia um grupo de Teatro, algo que ele nem sabia que fazia. A peça foi apresentada na área de sua casa e foi um sucesso que deu gosto.
Estava confirmado: João não queria mais ser ator, João queria ser diretor de Teatro.
Na escola os ensaios continuavam e João continuava só assistindo. E observando ele percebeu que sua professora não via a verdadeira beleza do Teatro, percebeu que ela não tinha nada a dizer com aquela peça, que os alunos pareciam bonecos e faziam o que a professora mandava, ouviu os gritos da professora e o choro dos colegas, indignou-se com a forma que a professora tratava seus alunos, com o descaso que ela tinha com a Arte e João decidiu naquele momento que não queria mais ser diretor de Teatro, ele queria ser professor, professor de Teatro! Queria abrir as gaiolas, arrancar as mesas, queria ensinar, conviver... Queria uma sala de aula onde todos se sentissem a vontade para falar, para pensar, para criar, para voar! Queria uma sala de aula onde todos pudessem sorrir e sonhar, e que todo o sonho pudesse ser realizado!
E o tempo passou e João, já grande, se tornou professor de Teatro e saibam que sua sala de aula é exatamente como ele havia sonhado!

O ATOR

http://www.pliniomarcos.com/
O texto abaixo, escrito por Plínio Marcos, descreve de forma intensa a importância do ator:


“Por mais que as cruentas e inglórias batalhas do cotidiano tornem um homem duro ou cínico o bastante para fazê-lo indiferente às desgraças e alegrias coletivas, sempre haverá no seu coração, por minúsculo que seja, um recanto suave no qual ele guarda ecos dos sons de algum momento de amor que viveu em sua vida. Bendito seja quem souber dirigir-se a esse homem que se deixou endurecer, de forma a atingi-lo no pequeno núcleo macio de sua sensibilidade, e por aí despertá-lo, tirá-lo da apatia, essa grotesca forma de autodestruição a que, por desencanto ou medo, se sujeita, e por aí inquietá-lo e comovê-lo para as lutas comuns da libertação. Os atores têm esse dom. Eles têm o talento de atingir as pessoas nos pontos nos quais não existem defesas. Os atores, eles, e não os diretores e os autores, têm esse dom. Por isso o artista do teatro é o ator. O público vai ao teatro por causa dos atores. O autor de teatro é bom na medida em que escreve peças que dão margem a grandes interpretações dos atores. Mas, o ator tem que se conscientizar de que é um cristo da humanidade e que seu talento é muito mais uma condenação do que uma dádiva. O ator tem que saber que, para ser um ator de verdade, vai ter que fazer mil e uma renúncias, mil e um sacrifícios. É preciso que o ator tenha muita coragem, muita humildade, e sobretudo um transbordamento de amor fraterno para abdicar da própria personalidade em favor da personalidade de seus personagens, com a única finalidade de fazer a sociedade entender que o ser humano não tem instintos e sensibilidade padronizados, como os hipócritas com seus códigos de ética pretendem. Eu amo os atores nas suas alucinantes variações de humor, nas suas crises de euforia ou depressão. Amo o ator no desespero de sua insegurança, quando ele, como viajor solitário, sem a bússola da fé ou da ideologia, é obrigado a vagar pelos labirintos de sua mente, procurando no seu mais secreto íntimo afinidades com as distorções de caráter que seu personagem tem. E amo muito mais o ator quando, depois de tantos martírios, surge no palco com segurança, emprestando seu corpo, sua voz, sua alma, sua sensibilidade para expor sem nenhuma reserva toda a fragilidade do ser humano reprimido, violentado. Eu amo o ator que se empresta inteiro para expor para a platéia os aleijões da alma humana, com a única finalidade de que seu público se compreenda, se fortaleça e caminhe no rumo de um mundo melhor, que tem que ser construído pela harmonia e pelo amor. Eu amo os atores que sabem que a única recompensa que podem ter não é o dinheiro, não são os aplausos - é a esperança de poder rir todos os risos e chorar todos os prantos. Eu amo os atores que sabem que no palco cada palavra e cada gesto são efêmeros e que nada registra nem documenta sua grandeza. Amo os atores e por eles amo o teatro e sei que é por eles que o teatro é eterno e que jamais será superado por qualquer arte que tenha que se valer da técnica mecânica."

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

TEATRO? POR QUÊ?




Por que o Núcleo resolveu voltar a trabalhar? Somos um grupo de atores amadores apaixonados, como muitos, pela arte teatral... Hoje, - mais velhos, ou melhor, mais experientes - não temos mais o sonho de viver de teatro, mas nossa existência sem o teatro ficou vazia e insignificante... Queremos trabalhar, estudar, viver, brincar de teatro livremente... Livres para criar... Livres para resignificar nossa arte... Somos atores, não temos medo de assumir! Muitos dirão: Falta do que fazer!; Perda de tempo!; e tantas outras bobagens... O que não sabem, é que uma vez experimentado o teatro, ele se incopora em nosso corpo, em nossa mente, de tal forma que ficamos incapazes de viver sem ele... As poucas horas semanais em que nos encontramos e jogamos juntos são únicas, plenas... Começamos vazios e terminamos completos... Não sabemos que caminho seguir, mas estamos caminhando...